Naquele dia, passavam poucos minutos das
10h da manhã, e o Americano estava encostado no canto da sala de reuniões. A
reunião vai começar não tarda, ainda faltam chegar algumas pessoas. O Americano
olha pela janela contemplando mais uma vez o cenário que o rodeava. Os dois
enormes edifícios à sua frente ardem que nem duas chaminés e o tempo parece ter
parado, excepto dentro do escritório. O Americano olha para a rua em baixo a
mais de vinte andares de altura. Os carros não estão a circular e o numero de
pessoas na rua multiplica-se que nem formigas desorientadas.
O Americano pega nas suas coisas e vai
abandoner a sala. A sua colega segura-lhe pelo braço na ombreira da porta “onde
vais? Ninguém disse que podíamos sair…” e acrescenta com um ar preocupado
“acabamos de encomendar o almoço”. O Americano olha para ela incrédulo e
responde… “… estão dois prédios a arder à nossa frente, o espaço aéreo
esta fechado… estamos a um quarteirão do Empire State Building e vocês querem
esperar pelo almoço?” e acrescenta apontando para a rua “e quem é que vai
trazer o almoço?”
Horas mais tarde naquele fatídico dia 11 de
Setembro de 2001, a população de Manhattan descobriu-se presa na ilha por ordens
militares que impediam que cidadãos saíssem ou entrassem – a exceção das
limousines com os diplomatas da cidade – e George W. Bush aconselhava os
cidadãos a fecharem-se em casa e barrarem as ranhuras da porta com fita cola…
O Americano apercebeu=se que a sua vida
valia muito pouco.
Durante meses a cidade de Nova Iorque
mergulhou num clima de solidariedade e companheirismo que pedia afastamento da
campanha militar do restante Pais contra os supostos responsáveis desta
tragédia. E dia-a-dia passaram a ser confrontados com um novo sentimento estratégico – o medo.
Hoje ao ligar a televisão a quantidade de
noticias que puxam ao decima os problemas do mundo ultrapassam em percentagem
as restantes, deixando pouca margem para a procura de esperança nos meios de
comunicação em favor duma política de medo. Esta cansativa situação impede muitos de ler jornais ver o Telejornal. No espaço duma semana assistimos à
queda propositada de um avião comercial a mais uma ofensiva no confronto
Israel-Palestina.
A calma e silenciosa biblioteca da
Universidade de Goldsmiths, onde estou sentado, contrasta com a raiva que me
corre nas veias pela incapacidade de acção perante ambas as situações.
Então eu escrevo.
Para quê?
Este fim-de-semana fui presenciado por uma
situação maravilhosa. Tornei-me no novo membro da organização budista SGI-UK
(cuja representação portuguesa também existe - http://www.sgi-portugal.org/). Nos 4 meses desta escalada conheci
variados membros que me ofereceram apoio duma forma como nunca assistira. O
principal objectivo passa pelo desenvolvimento individual a favor dum colectivo.
O mundo é uma merda, e os obstáculos são inevitáveis. Cada um de nós tem o
poder de mudar. Uma pessoa pode mudar o curso da História. Já foi provado
inúmeras vezes, maioritariamente para um resultado pior. Por esta linha de
pensamento, o contrario também é possível. Eu não tenho o poder de parar o
conflito em Gaza, nem de apontar o dedo a responsabilidades pelo desastre do
voo MH17 da Malaysia Airlines. Mas tenho o poder de escrever este texto.
Não quero com isto dizer que desejo uma
revolução. Não preciso de sublinhar o que no intimo todos sabem: há uma bolha prestes a rebentar que tem vindo a crescer com o total
descontentamento perante governos, economia, guerras e carnificina. Estes dois
acontecimentos que marcaram a semana incitam de novo a ideia o Americano sentiu no dia 11
de Setembro em Manhattan – uma vida humana já não tem valor – se é que alguma
vez teve.
Não podemos fechar os olhos a isto:
justifica-se que um avião comercial seja abatido em prol de um conflito de
gerações por um pedaço de terra? Se o limite não é traçado neste momento,
quando e onde será?
Eu não posso mudar esta visão. Posso ajudar
aqueles que se sentam ao meu lado a levantar se tropeçarem. E
daqueles que, com algum poder de mudança possam ler textos como este.
Grande texto Carlão ;) Fico feliz pela nova experiência em grupo,deve ser fascinante a nível pessoal e humano! Gostava só de reforçar que vale sempre a pena escrever e partilhar a nossa opinião. Tal como o bem, a informação é uma corrente. Que pode ser usada para pressionar quem comete erros. Assinar petições, partilhar. Mobilizar de centenas de modos. Sem extremismos. Nunca foi tão fácil fazê-lo nesta época com redes sociais. O mundo está a tomar um destino trágico por um lado e muito do que se passa hoje sempre ocorreu, mas ainda há muita bondade que vemos no dia a dia e acima de tudo há pequenos grandes acções que todos podemos fazer :) abraço de saudades champ!
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